sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Artigo

Para uma Igreja na pós-modernidade

   A Igreja não é do mundo, mas está inserida no mundo. É neste sentido que a temporalidade impõe à Igreja a árdua tarefa de transformar-se continuamente, tendo presente o grande desafio de dar uma resposta significativa ao mundo de hoje, sem deixar descaracterizar sua mensagem central. Em outras palavras, busca-se dialogar de uma forma madura com o pensamento e a organização da sociedade contemporânea de forma a gerar um crescimento mútuo.
   Os homens de nosso tempo são testemunhas de um momento ímpar na história da humanidade. Somos os responsáveis pelo futuro de uma sociedade que desafia continuamente seus próprios limites, tendo a racionalidade científica na vanguarda deste movimento. Tudo passa cada vez mais depressa, de modo que uma pessoa que tenha hoje 80 anos viu mais transformações do que as ocorridas em todo o milênio anterior. Ao mesmo tempo em que isso abre um enorme leque de possibilidades, torna-se extremamente difícil à própria humanidade acompanhar tamanho feito.
   A urbanização massiva é uma das mais evidentes provas da mudança de paradigma. 2007 foi um ano histórico em que mais da metade da humanidade passou a viver em cidades, firmando de vez o predomínio da cultura urbana. Os novos ditames giram em torno da criação de um novo modelo de relações, potencializado com o advento da era digital e da cultura midiática.
   O rompimento na transmissão da cultura e, consequentemente, da fé entre as gerações apresenta-se como um dos maiores desafios para a Igreja. Este meio privilegiado e natural de difusão da fé perde terreno a cada dia, colocando em xeque a capacidade da Igreja em usar de outros meios para penetrar nas veias da sociedade contemporânea. Aqui reside a questão chave: como converter ou adequar as estruturas existentes – senão reconstruí-las por completo – com a finalidade de permitir que a Palavra da Igreja possa ser ouvida nos novos areópagos? Paulatinamente é perceptível que a organização em torno do sistema paroquial não assume por si só um local de destaque frente a todos os encantos e possibilidades abrigados pela cidade. A Igreja passa a ser apenas mais uma instituição entre tantas, com uma “função” específica na sociedade, mas sem capacidade de influência no que concerne aos seus valores fundamentais, isso quando não passa completamente despercebida.
   Ora, a partir do momento em que prevalece a estrutura – exatamente aquilo que o Congresso Teológico 2011 se propôs a discutir – fica claro quão forte é o secularismo que estrangula a Igreja. A busca pela renovação das estruturas remete a novos referenciais capazes de inserir a Igreja em todos os ambientes, na integralidade da vida pós-moderna. Esta meta coloca a necessidade de partir de baixo, a partir de experiências que ao mesmo tempo se insiram na dinâmica de vida atual e sejam capazes de contribuir na edificação de referenciais seguros aos homens de nossos tempos. A Igreja primitiva, expressa no ideal das primeiras comunidades, buscava ser um ponto de apoio frente a uma sociedade opressora e idólatra. A partir desta experiência o cristão edificava sua vida de acordo com os princípios do Evangelho. Hoje eles embarcaram com a crise estrutural, também porque não conseguem mais contribuir nos ambientes de convívio e interação.
   Quem faz a experiência de vivência dos valores evangélicos não tem dúvida de que eles podem cooperar imensamente com o mundo de hoje. A espiritualidade é fundamental para contribuir com as escolhas necessárias. Aliás, aqui aparece outra característica marcante de nossos tempos: são infinitas as opções e estilos, modos de ser; cabe a cada um desenvolver critérios de vida frente à enorme crise da moral. A estrutura ajuda, mas – seja ela qual for – nunca pode esquecer-se de que Deus tem um maravilhoso plano para a humanidade, capaz de potencializar o sentido da existência humana na terra.
   A proposta que se pretende apresentar aqui é a de uma inserção verdadeira e profunda do cristão no mistério da fé. No seu berço a Igreja tinha uma grande ênfase querigmática, valorizando a experiência da conversão sincera, de modo a inserir a pessoa que assim quisesse na profundidade da vida cristã. Apesar dos grandes feitos dos primeiros séculos, a experiência primitiva não se apoia em uma Igreja das multidões. Antes, de trata de um grupo bem consciente e com uma fé vigorosa e testemunhal, capaz de fazer do testemunho seu grande referencial. Esta prática e vivência de fé despertava interesse neste modo todo especial de ser. Com isso, a Igreja foi crescendo.
   Com o tempo esta característica originária cedeu lugar a uma religião das massas, que foi perdendo seu elã. A Igreja das casas cedeu lugar aos grandes templos. Esta estrutura parece ser necessária e muito útil ao culto, mas até que ponto ela consegue ser um espaço de iniciação cristã? Em um momento histórico em que a sociedade está perdendo seus referenciais cristãos, urge a constituição de novos espaços capazes de suprir esta necessidade. Não seria o momento de voltarmos às pequenas comunidades como base eclesial? Não é delas que devem brotar as experiências de fé capazes de atrair o motivar para a vivência dos ensinamentos de Jesus?
   As iniciativas no sentido proposto tendem a contribuir na evangelização, aliviando a carga e o peso das “estruturas caducas”. Claro que não se pode imaginar este movimento apenas como a transferência do mesmo modelo vigente, criando como que “mini paróquias”. Pelo contrário, é preciso investir na formação e conversão dos próprios líderes de hoje, tornando aptos a testemunharem o evangelho, despertando para a consciência de que é preciso crescer na fé e assumir a missão de batizados. Busca-se assim, fazer de cada cristão um difusor da Palavra de Deus, seja por atos ou palavras, despertando os que estão na sua esfera de convívio para a busca da mesma experiência. Com esta ênfase é possível tornar a paróquia, mais dinâmica, enriquecendo-a e transformando-a aos poucos, a partir de baixo.
   Como não é o objetivo deste texto apresentar um modelo pronto, mas apenas uma perspectiva de atuação, permanece o grande desafio de conversão, sempre apontando para aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.


Eberson Fontana*


*Acadêmico do III semestre do bacharelado em Teologia, na Faculdade de Teologia e Ciências Humanas (Itepa Faculdades).

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