sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Espiritualidade

Síntese da obra “O céu começa em você” de Anselm grün  

   Introdução: O autor em sua obra procura buscar inspiração na rica fonte de espiritualidade cristã vivida pelos primeiros monges por volta dos anos 300 a 600 dC. O mais interessante é que esta espiritualidade encontrada nos monges vem ao encontro das necessidades e anseios atuais. Esta espiritualidade é conquistada a partir da base e começa em nós mesmos, em nossos pensamentos, sentimentos e paixões. O caminho que nos leva para Deus, segundo os padres do deserto, conduz a uma percepção e a um encontro muito intenso conosco mesmos. O que os padres do deserto nos ajudam a descobrir é que não se fala aí meramente sobre os homens e sobre Deus, mas que suas palavras provêm de um sincero autoconhecimento e de uma verdadeira e real experiência de Deus. A espiritualidade dos primeiros monges é mistagógica, ou seja, ela conduz para dentro do mistério de Deus e do homem.

1. A ESPIRITUALIDADE A PARTIR DA BASE
   Os padres do deserto nos ensinam uma espiritualidade a partir da base. Para eles o caminho para Deus sempre conduz ao autoconhecimento. Evágrio Pôntico afirmou: “Se queres conhecer a Deus, aprende primeiramente a conhecer a ti mesmo!” Sem o auto conhecimento corremos o perigo de nossos pensamentos sobre Deus serem meras projeções.
   O paradoxo do nosso caminho espiritual está no fato de subirmos para Deus à medida que nos rebaixarmos até a nossa realidade. É desta forma que entendemos a palavra de Jesus que diz: “Quem se humilha a si mesmo, será exaltado” (Lc 14,11; 18,14).
   É descendo para dentro de nossa condição terrena que nós entramos em contato com o céu, com Deus. Pois quando criamos coragem para descer até nossas próprias paixões, elas nos elevam a Deus. Por ser esta humildade o caminho mais difícil e desprezível para chegar a Deus, por isso que foi tão exaltada pelos padres monásticos. Pois aquele que almeja o céu com facilidade, nada encontra além de sua imagem pessoal a respeito de Deus e suas próprias projeções.
   O que precisamos fazer é através dos pecados, mergulhar dentro de nossa profundidade, porque é a partir do mais baixo que poderemos ascender até Deus. Somente o humilde é quem esta preparado a abraçar seu húmus, sua humanidade, sua terrenidade, sua sombra, experimentará o Deus verdadeiro. Para os monges é a humildade que os anima a buscar a verdade e os faz abraçar sua própria terrenidade e humanidade.
   O que é a humildade? Um ancião respondeu: humildade é uma grande obra; uma obra divina! O caminho para humildade, porém deve ser este: realizar trabalhos corporais, considerar-se um homem pecador, submeter-se a todos. O submeter-se a todos significa não prestar atenção às falhas dos outros, mas antes estar atento para as próprias falhas.
   Desta forma o caminho para Deus passa pelo encontro comigo mesmo, pelo rebaixamento para dentro de minha realidade.

2. PERMANECER EM SI MESMO
   Os patriarcas aconselham repetidamente aos monges permanecer na cela, a auto-suportar-se e a não fugir de si mesmo. A cela é sinal da morada do monge, um pequeno espaço que o monge construiu para si mesmo e lá permanece a maior parte do seu tempo. Nela ele permanece em oração e meditação. É também nela que ele trabalha.
   O permanecer na cela, quer dizer, o suportar-se a si mesmo, é o pressuposto para todo real progresso espiritual como também para a maturidade humana. Não existe homem maduro que não tenha tido a coragem de suportar-se a si mesmo e de encontra-se com sua própria verdade.
   A espiritualidade dos monges é sincera. Ela não passa por cima da realidade humana. O caminho para Deus, ao contrário, passa pelo autoconhecimento. Os monges não falam sobre Deus, eles o experimentam. Eles procuram afastar todas as possibilidades de dispersão, a fim de poderem direcionar o espírito completamente para Deus.
  O permanecer no interior da cela para o monge é um teste da realidade, pois se ele é capaz de suportar este enfrentamento consigo mesmo, onde nada é capaz de lhe tirar a atenção então, neste momento à verdade lhe atinge. Esta verdade em princípio pode ser até cruel, mas é ela que liberta. Desta forma que o monge irá ver se sua vida é coerente, irá ver se a imagem que ele tem de Deus é autêntica. Para os padres do deserto o interior da cela é um lugar de cura, pois justamente em seu interior é possível experimentar o amor de Deus e sua proximidade salvadora.
   Somente quando o monge vence esta etapa, poderá experimentar a cela como céu, o céu se abrirá sobre ele e sua pequena cela respirará a amplidão do céu, porque Deus mesmo está morando nela.

3. DESERTO E TENTAÇÃO
   O deserto é um dos grandes temas do monaquismo. Os monges vão conscientemente para o deserto para estarem a sós consigo mesmos e para procurar a Deus. O deserto era considerado pelos antigos como a morada dos demônios.
   Porém, o deserto não é somente a arena dos demônios. O deserto também é o lugar em que não é possível esconder-nos de nossa própria verdade. O deserto é o lugar em que somos confrontados mais cruelmente conosco mesmos e com nossas regiões mais sombrias. O deserto também é o lugar onde sentimos a maior proximidade de Deus.
   Deus conduz os monges ao deserto para ali suportarem a luta com os demônios e para, através da luta, poderem entrar no país da paz, no pais da visão de Deus. Desta forma os monges experimentam o deserto como o lugar em que Deus lhes está bem próximo, o lugar onde podem sentir o amor de Deus de uma forma mais intensa por não estarem impedidos por nenhuma sedução mundana. Para isso o monge precisa assumir esta luta com os demônios.
   A vida humana é marcada por conflitos constantes. Nós não podemos simplesmente vegetar. É preciso enfrentar os ataques que a vida eventualmente nos apresenta. É através das tentações que o homem obtém um faro do Deus verdadeiro. Sem tentações o homem estaria no perigo de apoderar-se de Deus e torná-lo inofensivo e inócuo. Pela tentação, porém, o homem experimenta existencialmente a sua distância de Deus, sente a diferença entre o homem e Deus.
   Os monges vêem as tentações com uma perspectiva positiva, Pois elas são um desafio para eles. As tentações os obrigam a cravar suas raízes ainda mais profundamente em Deus e a depositar toda a sua confiança nele. As tentações revelam para os monges que eles são incapazes de as vencerem somente com suas próprias forças e, por isso, a necessidade de confiar plenamente em Deus para conseguirem superá-las.
  Antes da tentação a pessoa reza a Deus como uma pessoa estranha. Porém, após ter suportado a tentação por amor a ele sem se deixar transtornar por ela, logo Deus a considera como alguém que lhe fez um empréstimo e tem o direito a dele receber juros. É como um amigo que por causa dele bateu contra o poder do inimigo.
   A tentação abriga-nos a lutar. Porque sem luta não há vitória. Vencer, porém, jamais é mérito nosso. Nós precisamos fazer a experiência de que, através da luta, Cristo age em nós e, de repente, nos liberta da luta constante e nos dá uma profunda paz.
   Estar consciente das tentações sem deixar-se dominar por elas é um caminho que nos mantém vivos, um caminho que sempre de novo nos recorda que nós mesmos não podemos tornar-nos melhores, mas tão somente Deus poderá transformar-nos muito.

4. ASCESE
   Os monges falam detalhadamente da luta que a vida com Deus exige. A vida no deserto é uma luta constante com os demônios e leva o monge a ter um trabalho constante. A ascese é um sentido ético, um exercício para um comportamento virtuoso. A ascese diz respeito a algo positivo, que é o exercício para a aquisição de uma atitude religiosa. Para os monges a ascese consiste no exercício pelo qual o ser humano se exercita numa atitude de “apatheia” que significa paz interior em que está aberto para Deus. Porém, para os padres do deserto este estado de paz sempre se origina da luta.
   Quando o monge atinge a paz interior, ele também alcança a pureza de coração que é um estado de clareza e pureza interior, de amor como abertura para Deus. Para alcançar este estado é necessário lutar. Portanto, para alcançar a pureza de coração e o amor, é necessário que façamos tudo por meio de obras ascéticas, pois elas são os instrumentos que podem libertar nosso coração de todas as paixões que nos atrapalham para a plenitude do amor.
   A ascese consiste sobretudo em tornar o corpo dócil e em subjugar as próprias vontades, em tornar-se senhor dos instintos e livre em relação às próprias necessidades.

5. CALAR E NÃO JULGAR
   Um sinal para saber se a ascese conduziu os monges para Deus é o não julgar. Por mais que o monge jejue com rigor e por mais que trabalhe duramente, isso tudo de nada adianta se, apesar disso, ainda fica a julgar os outros. Neste caso, a ascese apenas o faz se vangloriar-se diante dos outros. Ela serviu apenas para a sua soberba, para o aumento de sua auto-estima.
   Mas para quem, através de sua ascese, se encontrou a si mesmo, para quem agüentou ficar na cela, quando a repressão tende a ser maior, todo o julgamento sobre os outros passa como brisa. Por isso a maioria das sentenças dos patriarcas exortam a permanecer em si mesmo, a confrontar-se com a própria verdade e a não julgar os outros.
   Para os monges, o não julgar não é somente um critério para a ascese autêntica, mas também um auxílio para encontrar apropria serenidade interior.
   O julgamento não nos proporciona serenidade alguma. Pois, enquanto julgamos os outros, experimentamos inconscientemente que nós também não somos perfeitos. Desta forma renunciar o querer julgar os outros ou condená-los é um caminho para a paz interior conosco mesmos. Deixar os outros serem simplesmente como eles são, isso também, é uma maneira de sermos mais nós mesmos.
   Os monges exercitam a virtude do calar-se não como um fim em si mesmo, mas para se unirem a Deus. O calar é antes de tudo, a arte de estar plenamente presente, de admitir sem reservas o momento presente. O objetivo do calar é unir-nos com Deus, é estar de tal modo abertos para ele que ele possa preencher nossos pensamentos e sentimentos, que possamos experimentá-lo no fundo de nosso coração, que possamos presenciá-lo como a fonte de nossa interioridade, como fonte divina inesgotável.

6. A ANÁLISE DOS NOSSOS PENSAMENTOS E SENTIMENTOS
   O encontrar-se consigo mesmo, a que os monges aspiram e no qual eles vêem uma condição prévia do encontro com Deus, é antes de mais nada, um encontro com os seus pensamentos e sentimentos do próprio coração.
   O patriarca Evágrio está convencido de que grande parte de nosso caminho espiritual consiste em prestar atenção às paixões de nosso coração, em conhecê-las e tratá-las adequadamente. A finalidade deste tratamento é o estado da paz interior e serenidade. Na apatheia as paixões já não se combatem entre si, mas entram em harmonia com as outras. Evágrio chama também a saúde da alma de apatheia. A alma torna-se saudável quando ela entra em harmonia consigo mesma, quando está preparada para o amor, pois somente o homem que alcança o estado de apatheia é capaz de amar realmente.
   O conhecimento exato das emoções e paixões é a condição prévia para podermos lidar adequadamente com elas. A meta de nossa luta é atingir o estado de liberdade interior. Esta meta nada mais é do que um modo maduro de lidar com minhas emoções, ter um relacionamento equilibrado com minhas paixões. É um modo de estar em paz comigo mesmo e com minha sombra, minha totalidade, na qual a sombra é integrada e serve à aspiração espiritual.
   Os padres do deserto deixaram em seus escritos experiências com as paixões de nosso coração e as forças de nosso inconsciente:
   1) Ao âmbito da cobiça estão relacionados os vícios da gula, da luxúria e da cobiça. Comida, sexualidade e posses são três instintos básicos do homem que ele não pode simplesmente cortar ou ignorar, pois eles também o estimulam a viver. Importa saber se nos deixamos dominar por estes instintos ou se somos capazes de utilizá-los de forma que nos impulsionem no caminho para a vida e para Deus.
   2) Ao âmbito emocional estão relacionados três paixões: a tristeza, a cólera e a acídia. A tristeza sobrevém, algumas vezes, quando o ser humano não realiza seus desejos. Às vezes, ele vem acompanhado da cólera. A cólera é a mais forte das paixões. Com efeito, diz-se que é uma ebulição da parte irascível da alma e uma indignação contra quem lhe fez algum ultraje ou quem se presume que tenha feito. A acídia é a incapacidade de fazer-se presente no momento atual. Não se tem apetite nem para o trabalho nem para a oração. Nem mesmo o saborear o não fazer nada. Pois sempre se está com os pensamentos noutro lugar. A ascídia é uma expressão de fuga da realidade. Não se aceita encarar a sua própria realidade.
   3) As três paixões da esfera espiritual são:
   a) A Ambição: consiste no contínuo vangloriar-se diante dos outros. Tudo é feito unicamente para ser visto pelas outras pessoas.
   b) A Inveja: mostra-se na contínua comparação de si mesmo com os outros. Não sou capaz de encontrar-me com nenhuma pessoa sem comparar-me a ela. De um modo geral procuro desvalorizar o outro no intuito de revalorizar-me a mim mesmo.
   c) A Soberba: torna as pessoas cegas. O soberbo se identificou a tal ponto com sua imagem ideal, que se recusa a encarar a própria realidade. o demônio da soberba provoca na alma as piores quedas. Ele seduz o monge a não procurar em Deus a razão de suas ações virtuosas, mas em si mesmo.

7. O TRATAMENTO DAS NOSSAS PAIXÕES
   Para os padres do deserto a disciplina é um ótimo caminho para não se reprimir os instintos, mas formá-los para que possam estar à nossa disposição como forças em potencial. Superamos a tristeza quando nos afastamos da dependência do mundo, quando nos desprendemos daquilo que estamos presos, quando nos libertamos interiormente.
   O que nos ajuda, antes de ir dormir, é refletir sobre a ira e livrar-se dela, a fim de que ela não se fixe através do inconsciente no sonho, vindo manifestar-se no dia seguinte como insatisfação difusa. Pois, se nós, durante a noite, levarmos a ira conosco, perderemos o controle sobre nós mesmos.
   Perante a acídia os padres do deserto nos relatam que devemos permanecer em nossa cela e suportar aquilo que acontece em nosso interior. A acídia é a maior das tentações, porém ela tem como resultado uma maior purificação da alma.
   Diante da ambição os padres do deserto recomendam usar a recordação. Devemos recordar-nos de onde viemos, com quais paixões tivemos que lutar e como não foi mérito nosso que tenhamos vencido, mas sim, foi Cristo quem nos amparou nas lutas.
   O remédio mais eficaz é a contemplação, não terá mais valor algum aquilo que outras pessoas pensam a nosso respeito, pois teremos encontrado o nosso fundamento em Deus. O diálogo com os pensamentos é conveniente sobretudo no caso do medo, poie ele também tem o seu significado. Sem o medo nós não teríamos medida, querendo cada vez mais exigir de nós mesmos.

8. A FORMAÇÃO ESPIRITUAL DA VIDA
   Para os monges é muito importante a maneira como eles estruturam concretamente seu dia e que exercícios praticam. À primeira vista, isto parece algo exterior. Na realidade, porém, aí se decide se a vida será bem-sucedida ou não. Pois uma espiritualidade sadia necessita também de um estilo de vida sadio.
   O patriarca Pambo nos ensina 3 exercícios para chegar a maturidade espiritual:
a) Jejuar durante o dia todo;
b) Manter-se em silêncio, (calar);
c) Muito trabalho manual.
   A espiritualidade dos primeiros monges tem a força de formar e transformar a vida. A espiritualidade dos monges produziu uma cultura de vida. Ela nos desafia ainda hoje a nos deixarmos penetrar espiritualmente por ela, a cultivar uma vida espiritual que se torne visível também exteriormente.

9. MANTENDO A MORTE DIARIAMENTE DIANTE DOS OLHOS
   Os monges vivem na consciência de sua morte. E isso os torna interiormente mais vivos e mais presentes. O pensar na morte liberta-os de todo medo. O pensar na morte tira de nós o medo porque paramos de depender do mundo, de nossa saúde e de nossa vida.
   O pensar na morte também nos possibilita viver e experimentar conscientemente cada momento como dádiva da vida e saboreá-la dia-a-dia. A pessoa que mantém a morte diante dos olhos o tempo todo supera facilmente a tristeza e a estreiteza da alma.

10. A CONTEMPLAÇÃO COMO CAMINHO DE CURA
   O ser humano não pode ser curado em seu interior somente com disciplina. O lidar com os pensamentos e os exercícios concretos são um bom auxílio para as paixões se aquietarem e a alma se tornar saudável. Porém, somente a contemplação é que produz a cura verdadeira.
   A contemplação é a oração pura é a oração continuada, a oração acima dos pensamentos e sentimentos, a oração da união com Deus. A dignidade humana consiste em unir-se a Deus através da oração.
   Pela oração, o homem deve libertar-se primeiramente de suas paixões e, sobretudo, da ira e das preocupações. É através da oração que o homem vê sua própria luz. E é por esta luz que ele descobre a sua própria natureza, que é toda reluzente e tem parte na luz de Deus.
   O caminho espiritual dos primeiros monges é um caminho místico e mistagógico, um caminho que nos conduz para dentro de Deus. A meta do caminho espiritual, segundo os monges, é unir-se ao Deus Uno e Trino.
   É através da oração que podemos mergulhar no espaço do verdadeiro silêncio; silêncio em que tudo está salvo, curado e integrado; silêncio onde sentimos uma profunda paz, apesar de todas as feridas e humilhações.

11. A MANSIDÃO COMO SINAL DO HOMEM ESPIRITUAL
   A finalidade do caminho espiritual não está no grande asceta, naquele que jejua com perseverança, no homem conseqüente, mas no homem manso. A mansidão é sinal do homem espiritual. A mansidão é um sinal de que nós compreendemos a Cristo e de que o estamos seguindo.
   Um homem manso atrai e interessa a muitas outras pessoas. O homem que encontra a sua mansidão não precisa persuadir os hereges para a fé a partir de sua ortodoxia, ele não tem necessidade de evangelizá-los. Sua mansidão é um testemunho suficiente de Cristo. Quem encontra a sua mansidão, encontra a Cristo e irá reconhecê-lo através dela.
   A mansidão e a misericórdia são os critérios de uma espiritualidade autêntica. Somente quando os homens se tornarem mansos e tratarem seus semelhantes com misericórdia, somente então passarão a anunciar uma espiritualidade que seja ao modo de ser de Cristo.

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS
   Para muitos, as sentenças e os escritos dos padres do deserto, parecem estar muito distantes de nossa realidade. Nem sempre é fácil penetrar nesta linguagem tão diferente de nosso cotidiano. Porém, no momento em que descobrirmos a sabedoria que reside nas palavras dos padres do deserto, dificilmente as abandonaremos. Elas são uma fonte não só para a vida espiritual, mas também para a psicologia.
   Os monges nos ensinaram que o anseio por Deus é o que os estimula a ir para o deserto, a lutar de modo conseqüente com as paixões e a se manter a ascese. Deus para eles é pura e simplesmente a realidade. É por causa de Deus que eles abandonam o mundo e enfrentam com coragem a luta. Fica evidente que os monges já sentiram o gostinho de Deus e por isso não descansam enquanto não o tiverem encontrado.
   Os padres do deserto afirmam que somente através do caminho do encontro franco conosco mesmos, através da obediência, escutar os nossos pensamentos e sentimentos, aos nossos sonhos, ao nosso corpo, ao nosso trabalho e ao nosso relacionamento com as outras pessoas, chegaremos ao Deus que tudo transforma. O que os monges nos querem transmitir hoje é seu otimismo, isto é, que somos pessoas capazes de trabalhar-nos, que não estamos entregues irremediavelmente aos nossos planos e à nossa educação ou mesmo às situações sociais, mas que vale a pena formar-nos e transformar-nos, por meio da ascese, até que a imagem de Deus que está em mim resplandeça límpida.
   Podemos encontrar o nosso verdadeiro eu, isto é haveremos de encontrar Deus que, através da oração e da contemplação, nos cura de nossas mais profundas feridas e acalma os anseios de nosso coração.

Jorge Francisco Heiss Hahn*


*Acadêmico do III semestre do bacharelado em Teologia, na Faculdade de Teologia e Ciências Humanas (Itepa Faculdades).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI SEU COMENTÁRIO. OBRIGADO. DEUS TE ABENÇOE!